sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

As Egrégoras (A utilização das Forças Naturais e Mentais no Rito Umbandista)


Por: Gregorio Lucio

Julgamos necessário tratarmos de um assunto já bastante explorado no campo do conhecimento místico, as Egrégoras, por reconhecermos serem estas um aspecto sempre carecedor de considerações em torno de suas composições estruturais, as quais dinamizam e criam a "identidade energética" do templo umbandista, assim como também afiguram-se presentes nos trabalhos espirituais realizados dentro do terreiro de Umbanda.


É a partir do conjunto de pensamentos e emoções emitidas pelos indivíduos participantes da gira de Umbanda, encarnados e desencarnados, que formam-se as chamadas Egrégoras. Resultam estas em um campo de energia dinâmica que passa a transitar entre as dimensões física e extra-física (espiritual), contemplando em si uma carga de intensidade maior do que a doada inicialmente por cada um de seus criadores.

Essencialmente, todos os Ritos de Umbanda buscam gerar e alimentar uma egrégora específica (também chamada em algumas casas de "irradiação", "campo estrutural" ou "forma-pensamento") que contenha em si a conjunção de todas as mentalizações e exteriorizações de sentimentos, pensamentos e memórias, característicos da vivência de uma determinada coletividade em um determinado local.  

A egrégora forma-se sempre, portanto, na dependência de mentes que a sustentem ao longo do tempo em um espaço específico (as giras em um terreiro de umbanda, no nosso caso) para comportar as movimentações de energias que servirão para mantê-la viva - as egrégoras são estruturas vivas-.

A irradiação - a egrégora - formada e sustentada no Rito, será perpetuada pela  execução repetida das giras, alimentando-a pelas nossas mentalizações emitidas em resposta ao processo contínuo de evocações, orações e práticas ofertórias. De igual forma, a manipulação de elementos naturais (águas, ervas, pedras, chamas), em união com as energias das correntes mediúnica e astral, concorrerão para a acentuação do efeito criador, no qual a soma de energias entregues será sempre de intensidade maior do que aquelas doadas por cada um, conforme dissemos anteriormente.


A dialética da prática umbandista compreende um conjunto de ritmos, sons, imagens, cores, movimentos (entre outros) dispostos em categorias harmônicas, implicando numa criação de sentidos estéticos que são percebidos pela consciência e integrados nesta, contemplando seus aspectos intelectuais e intuitivos (não-racionais), de tal sorte que há a entrega, por parte daqueles que vinculam-se aos ritos, de suas próprias elaborações psíquicas, memórias, sentimentos, sensações, que passam a compor o complexo abstrato, energético, o qual se enriquecerá conforme mais intenso e positivo esteja o comportamento de seus criadores encarnados: a corrente mediúnica do templo.
A abrangência vibratória, própria da egrégora do templo, alcança cada um de seus filhos além dos limites do espaço, pois que transita num nível de existência temporal (a egrégora possui existência finita), mas conserva-se à parte do limite espacial, como em qualquer processo de formação de estruturas extra-físicas, no qual há a sujeição às influências do tempo e a "quebra" das leis que circundam o espaço, embora necessite, para a sua estruturação, de um local (espaço social) adequado, no qual o agrupamento de mentes afins será o seu dínamo gerador. Toda egrégora, por conseguinte, é o resultado de uma ação psíquica e social.

A medida em que se desenvolve, ao longo do tempo, a tradição umbandista seguida pelo templo servirá como a contraparte social da expressão de sua egrégora. Seu complexo de conhecimentos internos ao grupo, seus trabalhos, calendários, práticas específicas (abertas ou fechadas ao público), processos iniciáticos e "modos de fazer", compõem o universo simbólico/religioso que passa a se incorporar na vida cotidiana de seus adeptos, implicando numa agregação de valores que passam pelo compartilhamento comunitário, fazendo-se memória emocional, conteúdos psicológicos influenciadores do mundo interior de cada um.

Porque seus criadores são dotados de vida e, consequentemente, de existência, também as egrégoras o são, e as suas expressões tornam-se possibilidades do real, agentes veiculadoras e transmutadoras das circunstâncias da vida, manancial criativo e dinâmico onde o adepto poderá colher inspiração e sustentação espirituais, por conta das práticas rito-comportamentais aprendidas no templo, as quais são associadas pelo adepto e realizadas em seu cotidiano particular (hábito da oração e da mentalização, a firmeza de suas correntes, banhos de ervas, o uso de guias e patuás, etc).

Não obstante, quando o seu comportamento estiver destoando da ética proposta pelo exercício do bem e da caridade, entrará em choque com os padrões de energia estabelecidos pela egrégora que o influencia, sujeitando-se às contraposições cármicas e reordenadoras, com o intento de internalizar as suas atitudes e rever seu proceder diante de si e do outro.


Pelas experiências espirituais que vivenciamos junto aos Guias e Protetores de Aruanda, entendemos ser o plano astral sensível e influenciável pela mente, cujos seus estados de felicidade ou sofrimento elaborarão paisagens belas ou zonas de escuridão, a refletir, em verdade, a condição mental dos espíritos que a estas regiões estão ligados. O mundo astral molda-se, salientamos, às construções mentais próprias do(s) indivíduo(s), situando-no nas regiões que guardem o mesmo padrão de mentalização.

  
Sendo assim, as Egrégoras sofrem a influência dinâmica dos conteúdos mentalizados pelos seus criadores e suas estruturas se expressarão luminosas ou sombrias a depender das propostas de cada trabalho e gira a ser realizada, de todo o bem que se deseja e pratica em favor do próximo e de si mesmo.

Os ritos de iniciação do médium colocam-no em ligação cada vez mais aprofundada com a egrégora espiritual do templo no qual este opta por realizar sua jornada dentro das Leis de Umbanda. A manipulação dos elementos naturais e religiosos, acompanhada pela oração e a evocatória, direcionarão para a coroa mediúnica os focos de irradiação próprios e afins ao médium (característicos de seu Orixá-de-frente), abrindo-lhe, gradualmente, os canais de percepção espiritual e ampliando seu campo de integração e influência sobre a irradiação - a egrégora -  do templo, exigindo-lhe maiores responsabilidades e condutas consentâneas aos graus a que se alça ao longo do caminho espiritual.


Desta feita, o compromisso assumido junto às correntes espirituais do terreiro direciona-o aos movimentos de aprendizado, reflexão e interiorização das experiências que passará a vivenciar nas giras, pela prática do transe e das obrigações a que deverá cumprir, assim como das relações humanas que passa a estabelecer com os irmãos de fé, percorrendo os caminhos da devoção, da pertença social a que todo o ser humano equilibrado em sua conduta buscará realizar como ser atuante e produtivo em sua sociedade.


Seguidos os tempos de prática e entrega ao círculo religioso próprio à Umbanda, o seu adepto deparar-se-á com um cadinho de lembranças afetivas, conhecimentos adquiridos, maturidade alcançada, esperança na vida futura, na certeza da imortalidade e na efetiva presença de seus Guias e Protetores ao longo de sua jornada como espírito encarnado.

Suas experiências de vida passam cada vez mais a integrar-se à Egrégora na qual interpenetrou consciencialmente, a pouco e pouco, ordenando suas impressões espirituais, preparando-se-lhe a desencarnação, pela sua eminente proximidade, sob cuja ocorrência volverá à Aruanda, como filho de Umbanda, aproximando-se, em novo processo de iniciação, às correntes espirituais ligadas àquela egrégora na qual tornará-se, então, colaborador e participante da agora corrente astral de Umbanda, junto da qual passará a um estado de novos aprendizados e refazimento em vista do cometimento do processo reencarnatório que, amiúde, tornará a ascender sobre suas necessidades de contínua transformação e desenvolvimento como espírito.

O dinamismo das Leis espirituais impulsiona-nos os passos para o encontro com a Saúde, a Felicidade e o Bem-Estar, por tanto, façamo-nos seres ativos e conscientes destes mecanismos para que com eles possamos interagir de maneira positiva, comandando nossos caminhos, sabendo utilizarmo-nos das Egrégoras de Alta Luz e Beleza que certamente são produzidas e firmadas em nosso cazuá com muito Amor, Devoção e desejo de praticar o Bem, para o próximo e para nós mesmos.

Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Rivas Neto, Francisco (1996). Fundamentos Herméticos de Umbanda
                                   (2002). Umbanda A Proto-Síntese Cósmica   
Vieira, Lourdes de Campos (2004). A Umbanda e o Tao
Lima, Bentto de (1997). Malungo - Decodificação da Umbanda
Radin, Dean (2008). Mentes Interligadas






2 comentários:

  1. Gregório irmão de Fé.
    So tgenho a parabenizar-lhe por seu Blogger, que peço licença para copiar vários artigos e lançar no meu para que cada vez mais possamos colocar nossos irmaõs com conhecimentos que muitas vezes são deixados de lado, por virem de sentimentos familiares que passam de uma geração para outra, sem que haja um estudo mais lapidado, mais profundo de nossos fundamentos umbandistíscos.
    Como voco membro de sua casa, só tenho a agradecer que existam muitos gregórios, e que após lidar com 40 anos de aprendizado de nossa amada Umbanda, possa aprender cada dia mais um pouco do muito que terei que ainda aprender.
    Meu Saravá e que as falanges do amor e da caridade estejam sempre com o Irmão.
    Antonio Carlos Evangelista.

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    1. Agradecemos ao comentário do amigo! Ficamos felizes de que estes textos, embora ainda bastante humildes, possam contribuir com o enriquecimento daqueles que se interessem por ampliar a sua visão a respeito da prática religiosa na Umbanda. Saravá!

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