quinta-feira, 28 de julho de 2011

Entidades Espirituais da Umbanda


Por: Gregorio Lucio

Muito se tem dito e escrito a respeito das entidades espirituais vinculadas ao universo espiritual da Umbanda.

É de conhecimento de todos, inclusive popularmente, as representações simbólicas sob as quais estas entidades se apresentam nos ritos dos templos umbandistas. São os nossos caboclos, pretos-velhos, crianças, baianos, boaideiros, marinheiros...


Não entraremos aqui no estabelecimento de linhas de trabalho, ou na característica particular de cada tipo de entidade, as quais cabem para cada templo, de acordo com sua tradição.


Faremos sim, uma incursão direcionada ao conhecimento de quem são os Espíritos que se manifestam como Guias e Protetores na Corrente Astral da Umbanda, bem como qual a sua relação com o universo "material", com a "consciência mediúnica"e como estes Numes transitam entre a dimensão humana e a dimensão divina (expressa pelo Orixá).

Para iniciarmos, precisamos compreender em essência a atuação do(s) Orixá(s) como sendo a de um ser estruturador da Realidade. Tudo o que existe no Universo, seja de natureza concreta ou abstrata, física ou não-física, realiza-se e sustenta-se por meio do(s) Orixá(s). O(s) Orixá(s) é quem manifesta a "vontade Divina" no tempo e no espaço, estruturando as várias dimensões da Vida e abarcando em si as esferas pertencentes a estas dimensões (Natureza, Humanidade, Espiritualidade e Divindade).

Por ser o agente manifestador da Divindade Maior (Olorum, Deus, Zambi, etc), o Orixá manifesta-se no universo como um todo, tornando-se regente de uma determinada faixa vibratória, a qual alberga em si todos os seres portadores de consciência (independente de seus níveis) e, por consequencia, todas as coisas existentes. Lembremos que o "mundo material" (Natureza/Humanidade), segundo nossa conceituação, é manifestação do "mundo espiritual" (Espiritualidade/Divindade), por isso o universo material existe na medida em que é manifestado pela Consciência, a qual está situada na dimensão Espiritualidade/Divindade.

Obviamente, existe um contínuo "fluxo e refluxo" neste trânsito entre a Realidade Divina/Espiritual e a realidade Natural/Humana.

Sendo assim, Orixá torna-se então manifestação da Divindade (sendo Seu preposto na Hierarquia Divina), na Espiritualidade (manifestando-se como força viva através dos Numes Espirituais), na  Natureza (por meio dos 4 elementos: ar, fogo, agua e terra) e, por fim, na Humanidade (emergindo como força arquetípica pertinente ao insconsciente pessoal e coletivo do indivíduo).

Dito isso, entendemos agora que dentro de cada faixa vibratória, a qual denominamos Linha dentro das Leis de Umbanda,  estão contidos aspectos divinos, entidades espirituais, elementos da natureza e seres humanos cujas consciências "vibram originalmente"  em sintonia com esta ou aquela faixa, representante deste ou daquele Orixá. É por isso que temos então pessoas filhas de tal Orixá, espíritos representantes de Orixá tal, elementos da natureza relacionados com Orixá tal, assim como atributos divinos ligados a determinado Orixá.

Diante dessa questão, entenderemos que as entidades tidas como Guias e Protetores em nossa Lei de Umbanda, são aquelas que passando pelo ciclo nascimento - morte - reencarnação (ciclo reencarnatório), a pouco e pouco, vivenciam e vivenciaram a experiência do contato homem/Orixá, seja na vida do mundo espiritual, seja na vida "humana" (encarnação), seja na sua passagem evolutiva pelos reinos da natureza, adquirindo consciência do Orixá, daquilo chamado de "Deus interno", passando a ser manifestadores da força e irradiação do Orixá.

Assim é que podemos ter, dentro de uma mesma Linha, entidades diversas. Ex: Preto-Velho, Caboclo, e Boiadeiro manifestando a irradiação de Ogum; Marinheiro, Criança, Caboclo e Preto-Velho, manifestando a irradiação de Yemanjá, e assim por diante.

Importante considerarmos também que os termos "Caboclo", "Preto-Velho", "Criança", "Baiano", etc, mais do que a forma de apresentação destes Espíritos, remetem ao grau espiritual concernente a cada um. Esse grau espiritual não traduz uma relação vertical entre as Entidades (por exemplo, Preto-Velho seria "mais evoluído" que o Caboclo, e vice-versa). Ao contrário, as relações do plano espiritual revelam-se horizontalmente entre os Guias e Protetores, sendo dada a ascendência de determinado Espírito sobre o médium pelo fato deste guardar maior afinidade vibratória e kármica sobre o seu tutelado. Embora seja verdade que muitos espíritos tiveram pelo menos sua última encarnação como índios, negros, nordestinos e sertanejos, isso não se torna uma regra na qual possamos enquadrar todos as Entidades que "baixam" nos templos de Umbanda.

Tratando agora a respeito da relação médium/Guia, podemos também citar um aspecto interessante, segundo o qual sendo o médium filho de determinado Orixá, esse receberá um Guia manifestador deste mesmo Orixá, conhecido como "pai de cabeça" ou "guia de frente". Será sempre sob a cobertura dessa entidade "principal" que irão ocorrer as manifestações mediunistas das demais entidades que compõem a "coroa mediúnica" do médium. A abertura da sintonia mediúnica será sempre realizada pelo guia de frente (não necessariamente incorporando-se no médium antes das demais, mas sim efetivando uma influenciação mais subjetiva e sutil), resguardando o médium e sua identidade.

Finalmente, e ainda sobre a atuação do Guia de frente, na experiência do transe, ao longo da vivência tempo/rito, poderão emergir os conteúdos numinosos presentes no inconsciente do médium proporcionando experiências místicas profundas e alterações marcantes no seu comportamento e percepção da vida, compreendo-se como Ser existente tanto na realidade material (natureza/humanidade) quanto espiritual (espiritualidade/divindade), como sujeito eterno e constituído pelo Divino/Orixá.

Abaixo, referências para os que desejem aprofundar-se no tema.

Saravá a todos!

Bibliografia Consultada:
Rivas Neto, Francisco (2002). Umbanda a Proto-Síntese Cósmica
Saraceni, Rubens (2005). Tratado Geral de Umbanda

Outras referências:
Rivas Neto, Francisco (2010). Ancestrais Divinos e Humanos nas Religiões Afro-brasileiras

Um comentário:

  1. É como diz Aline, da Cidade das Pirâmides, “Entidades são nossas identidades ligadas aos seres da natureza, Orixás e Raios por sintonia de vibração”.
    Vejam o programa WWW.deolhonomundo.com Abraços.

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